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4.3.11

J O A N A




Carlos Leite Ribeiro


Naquela cama de um hospital, agonizava uma adolescente.
Quem a tivesse conhecido, com certeza que naquela altura não a teria reconhecido: cabelos rapados, tubos no nariz e na boca ... era um farrapo humano, aquela que ainda há pouco tempo era uma linda menina.
Tudo começou quando os pais se divorciaram. A mãe, começou então a conhecer amigos e amantes.
A Joana, que na altura era estudante, começou a ter da parte da mãe uma liberdade que até aí nunca tivera.
O pai talvez não fosse grande coisa, mas impunha ordem e respeito.
À mãe da Joana, convinha esta liberdade que dava à filha, pois assim, podia andar na vida amorosa que, secretamente, sempre desejou.
A Joana começou a andar com "amigos"; começou a ir a muitos "trabalhos em grupo"; começou a drogar-se; começou a ter sexo ...
E a doença do século, a Sida, tomou conta do seu belo e promissor corpo e do seu belíssimo rosto.
Quem a viu e quem a vê: cabelo rapado, tubos na nariz e tubos na boca ...
Pensou na mãe. Talvez quando soubesse da sua morte, filosoficamente pensasse: "A minha filhinha não teve sorte nesta vida". E, com o seu grande poder de auto-desculpa, continuasse a pensar: "Se ela fosse como eu, ainda hoje estaria viva - a culpa foi dela !".
A morte aproximava-se de Joana. Revoltou-se.
Tinha vivido demasiadamente depressa a vida, mas nunca soube o que era o seu lado bom. Agora estava prestes a extinguir-se. Não, Joana não queria morrer, queria ser feliz. Desejava ter filhos para um dia poder transmitir-lhes a sua dolorosa experiência. Desejava ter filhos para os poder educar, para mais tarde eles poderem ser os "espelhos" da sua própria vida.
Entretanto, Joana morreu ... ...
Quase milagrosamente, após a sua morte, as belas feições de Joana apareceram novamente.
Parecia que sorria.
E talvez sorrisse ...
Talvez o Senhor Bom Deus, na sua infinita bondade lhe tivesse segredado que contava com ela, no Dia do Juízo Final ...

Conto de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal

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